Blog da Biblioteca do IES de Curtis

18/6/10


Na medida em que a percepção se confirmava na propagação do boato, as pessoas daquele país sentiam-se privilegiadas, enchendo-se de um fervor patriótico justificado em sua escolha para não mais perecerem. Porém, com a experiência e a reflexão sobre ela permitidas pelo tempo que passava e pelos problemas que começavam a se apresentar, o que num primeiro instante fora entusiasmo pintado nas cores da bandeira, transformou-se em condenação à vivência de situações cujos malefícios se incrementavam na proporção em que não mais se morria: até mesmo o principal dito em um ano que se inicia estampado como manchete em um dos jornais, “[...] Ano Novo, Vida Nova [...]”, passou a soar ironicamente perante o desespero que se alastrava em meio aos órgãos públicos, às empresas privadas e à população em geral. (Cf. p. 23).
O Governo não sabia como lidar com uma situação que lhe apresentava um problema inédito sem correr o risco de perder a popularidade como efeito de suas medidas. Empresas cujos ramos de atividade diziam respeito à morte, como funerárias e seguradoras, viram-se à beira da falência e forçaram o governo a se posicionar favoravelmente a uma solução paliativa: “[...] que o governo venha a tornar obrigatório o enterramento ou a incineração de todos os animais domésticos que venham a defuntar [...]”. (p. 26). A Igreja se viu ameaçada, uma vez que sem que as pessoas morressem não poderiam ressuscitar para a vida eterna, e sem oferecer o seu principal produto – a ressurreição – a instituição não teria sustentação lógica: “[...] as religiões, todas elas, por mais voltas que lhe dermos, não têm outra justificação para existir que não seja a morte [...]”. (p. 36).
A ausência da morte entre os homens não teria trazido apenas o caos econômico para o referido país, a moralidade de sua população foi posta à prova quando, tomadas de sentimentos contraditórios, as pessoas que inicialmente comemoravam a permanência de parentes queridos consigo, passaram a desejar alguma maneira de se livrarem dos transtornos provocados por um moribundo permanente. Casas de repouso ficaram cheias: tratava-se da terceirização da responsabilidade no apogeu de sua intensidade!

No hay comentarios:

Neste blog utilizamos as imaxes con fins educativos. Se algunha delas estivese suxeita a dereitos de autor, pregamos vos poñades en contacto connosco para retirala de inmediato.



Deseño logo: shouvas